E OS LIVROS AINDA

 

Uma ode ao livro e aos seus poderes de transformação da mente dos homens. Um poema que cala fundo!





E os livros ainda

                                                                                           Czeslaw Milosz

E os livros ainda estarão ali nas prateleiras, entes separados, 
Que certa vez surgiram, ainda molhados
Como castanhas brilhantes sob uma árvore no outono,
E, tocados, mimados, começaram a viver
Apesar dos fogos no horizonte, castelos explodidos,
Tribos em marcha, planetas em movimento.
"Nós somos", eles disseram, mesmo quando as suas páginas
foram rasgadas, ou uma chama vibrante
lambeu e apagou as suas letras. Tão mais duráveis
do que nós, cujo frágil calor
Esfria com a memória, dispersa, perece. 
Imagino a terra quando eu não mais existir:
Nada acontecerá, nenhuma perda, será ainda um cortejo estranho, 
Vestes femininas, lilases orvalhadas, uma canção soando no vale.
Mas os livros ainda estarão lá nas prateleiras, bem nascidos,
Derivados de pessoas, e das radiâncias, alturas.

Traduzido por Ezequiel Theodoro da Silva

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And Yet the Books 

And yet the books will be there on the shelves, separate beings,
That appeared once, still wet
As shining chestnuts under a tree in autumn,
And, touched, coddled, began to live
In spite of fires on the horizon, castles blown up,
Tribes on the march, planets in motion.
“We are,” they said, even as their pages
Were being torn out, or a buzzing flame
Licked away their letters. So much more durable
Than we are, whose frail warmth
Cools down with memory, disperses, perishes.
I imagine the earth when I am no more:
Nothing happens, no loss, it's still a strange pageant,
Women's dresses, dewy lilacs, a song in the valley.
Yet the books will be there on the shelves, well born,
Derived from people, but also from radiance, heights.

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O poeta polonês Czeslaw Milosz (1911-2004) foi um homem com uma história pessoal marcada pelas reviravoltas políticas do século XX. Nasceu onde hoje é a Lituânia e lá viveu até a juventude. Passou a infância em meio às batalhas da Primeira Guerra Mundial, na frente russa. O pai era engenheiro e construía estradas para o czar. Depois da guerra, sua cidade natal passou a fazer parte da Polônia (o polonês era, originalmente, a língua de sua família). Durante a Segunda Guerra Mundial, Milosz estava em Varsóvia, combatendo os nazistas. Com a formação da república socialista polonesa, ele se tornou adido cultural em Washington. Desiludido com o stalinismo, pediu asilo político na França em 1953. Lá, nesse mesmo ano, publicou o livro A Mente Cativa, que criticava o Partido Comunista Polonês. A obra, naturalmente, foi censurada na Polônia, onde circulava clandestinamente. Em 1960, Milosz assumiu a posição de professor de literatura na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e naturalizou-se americano dez anos depois. Poliglota — dominava russo, polonês, inglês, latim, grego e hebreu —, ele traduziu poetas como Shakespeare, Milton, Baudelaire e T.S. Eliot para seu idioma natal. Em 1980 o poeta recebeu o Prêmio Nobel de literatura, o que elevou bastante sua popularidade. O poeta morreu na Polônia, em agosto de 2004, aos 93 anos. - Carlos Machado


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